de onde estou,
nada mudou.
trovoadas no escuro,
por um momento o céu se fecha
para o desconhecido,
mas se abre quando saio da caixa
que me prende no espaço-tempo
e nas minhas próprias convicções
do que é,
do que não é,
do que deixou de ser por convenção
ou conveniência.
a bolha
do individuo,
essa identidade unificada e fixa
definida desde o seu nascimento
(do indivíduo-
sujeito cartesiano;
o que pode ou não
ser explicado matematicamente).
o "eu real"
em diálogo contínuo.
a certeza de que sou e existo
enquanto penso,
enquanto penso.
e o que importa?
e o que eu sinto?
e o que eu sinto,
importa?
importa?
o "eu real"...
descontruo diariamente
o contato que me prende no solo.
raiz, caule, folha
e matéria
sólida
firme no chão.
a compreensão de que sou névoa
a ponto de
evaporar
evaporar
evaporar...
ao me abrir
em hora qualquer
posso ser, estar, ficar.
demoro a mudar,
mas sou a própria mudança,
constante ruína de antepassados.
em protesto
me reformulo
e crio uma nova realidade,
a partir do que quero que estabeleça
como minha verdade.
a ilusão do agora,
lá fora
o caos.
o desejo absoluto
de ter e possuir.
o que tem prazo de validade.
como identidades e personas
que crio para me representar
fora de mim,
onde eu possa ver
e controlar.
fugir das minhas inseguranças;
inseguranças essas que movem o capital,
nutrem a redoma turva,
sem transparência,
em desencontro com a essência
daquilo de que sou de fato.
sou apenas a representação do sujeito
imerso em um sistema cultural.
sujeito moderno em constante dúvida sobre si,
dependente de conforto,
auto-afirmação,
de processos psíquicos e simbolicos,
do inconsciente que surgem de uma lógica
não racional.
não existe sujeito ou subjetividade
fora da história, da linguagem,
da cultura, ou das relações de poder.
dito isso,
o que sobra?
além de realidades paralelas,
a vida artificial,
corpo humano,
máquina,
a mente evolui mais rápido que o corpo
e o que transcende ainda está além
dessa relação multidimensional.
(pele congelada no tempo)
o que a natureza deu
parece não acompanhar o não-biologico;
é atrasado(!)
átomos são reinventado por terceiros.
a camada sensorial,
superfície,
textura,
temperatura do mundo,
interação com o meio ambiente
ao ver, ouvir e tocar,
perceber o que está além
- sinais e ruídos,
onde só a alma alcança.
entre a ambiguidade de ultrapassar
a natureza ou igualarmo-nos a ela via a ciencia,
tendo em vista a ameaça de a técnica
alcançar limites inimaginaveis.
a experimentação se lança no laboratório
pos-humano
de controle de tudo e todos.
mera tentativa falha
(do indivíduo)
de alcançar a alma
e mais uma vez se perde...
se vende aos seus próprios demônios
se vende aos seus próprios demônios
se vende aos seus próprios demônios.